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Hoje, soprei 25 velinhas.
O gosto na boca é aquele de saliva mesmo: não é amargo nem
doce, não machuca nem alivia. No fundo, parece bem um retrato dos vinte e cinco
anos percorridos até aqui. Entre tudo o que se perde (e olha que nem se perdeu
tanto, por mais que o drama me faça querer berrar que sim), fica o desinteresse
de todo dia. Em retrospecto, penso que poucas coisas conseguiram me empolgar:
teve uma paixonite ali, um sonho despedaço aqui, um frio na barriga lá. Sou uma
borboleta que retrocedeu a lagarta. Tirei notas ruins, mais vezes do que
gostaria de poder contar. Viajei. Tive bons amigos, que acabaram escorrendo
entre os dedos por motivos que eu nem sei mais enumerar (e que já foram tão,
tão importantes). Briguei. Entrei na faculdade três vezes – falhei nas três. Escrevi
pouco, o que me dói por inteiro. Me dediquei pela metade a muita coisa. Play,
pause, repeat. Ganhei muito e perdi pouco, o que torna todo esse texto tremendamente
injusto – mas gente mimada é assim mesmo. Aprendi que, depois do primeiro fim,
a gente amortece todos os fins seguintes. Sou um aborto que nasceu. Decepcionei
meus pais e a mim mesma. Alegrei meus pais e a mim mesma. No fim, vai ver que as
coisas boas anularam as ruins e o resultado é esse enorme zero que engole tudo
o que eu faço. Já dizia eu de outra vida: o mundo nasce e morre no tédio.
Sou resultado da inércia. Meu corpo se move porque é o que
tem pra hoje mesmo, né? E eu vejo todos os rostinhos ao redor sempre tão
dispostos a me dar um afeto aqui e ali (e só eu sei como a máscara de
queridinha é fácil de vestir) – mas ninguém me atravessa. Nada me anima ou
entristece porque, pra ser sincero, não dá pra comover quem se nega a sentir
demais. Sou a fruta que caiu mais cedo do pé e morreu antes de amadurecer. Se viver
é, invariavelmente, aprender com os próprios erros, por que eu me tornei refém
dos meus?
E o meu leitor eu faço questão de tranquilizar: hoje não é um
dia ruim, não. Já tive piores. No fim, acho que a gente se acostuma com o gosto
da água morna. Qualquer coisa, é só ir pra duas sessões de terapia, pegar
atestado falso no psiquiatra e ser grosso com todo mundo porque: saúde mental.
Happy birthday to me!