Resultado de uma madrugada ouvindo músicas felizes

Isso não é bem um texto meu reclamando que a vida não gosta de mim - é mais um desabafo admitindo que, talvez, mas só talvez mesmo, seja eu que não consiga enxergar o pouco de afeto que a vida me dá (afeto que, na maior parte das vezes, é cuspido na cara, mas sentimento não deixa de ser sentimento só porque a gente não gosta da maneira com que foi entregue). 

Hoje abri uma trégua dentro das minhas constantes tentativas de enfiar preto no branco e me permiti ser feliz (só por hoje, meus queridos, juro que logo a febre passa e volto aos meus conformes). É fato inegável que, sim, felicidade depende de uma série de motivos, mas hoje eu me permito afirmar que o maior deles é disposição. Não se vê beleza no mundo porque falta vontade. 

Hoje não preciso me esconder por trás de personagens fictícios, porque não estou preocupada em me mascarar pros outros. Hoje, só hoje, amadureci pra perceber que nada surge do vazio - até a mais alta das árvores já foi semente um dia. Hoje, ao invés do peso do mundo, me comparo com um avestruz que a vida inteira tentou ser águia: caí milhares de vezes antes de aprender que o percurso é mais fácil andando do que voando, mas cá estou de pé novamente (meio machucada, de fato, mas o que são as cicatrizes senão a maior prova de que o passado me trouxe a um lugar concreto?)

Hoje escrevo como quem faz versos, não cartas de suicídio. Me encaro no espelho como alguém que entende que amor é questão de paciência, não de desespero. Por fim, alguém a quem os anos só ensinaram e que hoje conclui que, para todo sofrimento, existe um contentamento proporcional, basta abraçá-lo.

E se amanhã eu arranjar contra-argumento para todas essas linhas, que eu lembre do alívio que foi hoje. 

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